terça-feira, 20 de outubro de 2009


Dor-ivaldo


Para Dorivaldo Zambrim (in memoriam)

Visto a utopia estranha
De trazê-lo para cá,

Gerar em minhas entranhas

Um pai benfeitor, quiçá.


Um pai para consagração,

Pois se foi e nem viu

Minha primeira menstruação,

Meu primeiro namorado viril.


Um pai à prestação,

Pois se foi sem dizer tchau,

Nem deixou pensão,

Só uma saudade unilateral.


Hoje senti uma falta danada.

Chorei muito no banho,

Foi como uma engasgada

Com um sentimento tamanho.


Agora dos vermes és o pai,

E fétido em demasia,

Mamãe friamente o trai,

Para mim, ainda é poesia.




sexta-feira, 4 de setembro de 2009



Dezessete do sete


Em seu aposento,
Toda libidinagem

Até o gargalo

E tudo que não convém,

No ralo.


Todo másculo, enérgico,

Abrasador.

E ativado meu carpelo,

Em carícias pungentes,

Pousa pêlo no pêlo.


Um corpo assaz,

Vertendo sem cessar,

Seja mordaz comigo!

Faça desse corpo descarnado

Teu abrigo.


Mas se eu alavancar

E der a cara a tapa,

Quem concederá aval?

E no âmago,

És pavoroso ou celestial?


Mando-te uma orelha,

O que for, aceito.

Resguarda-me, depois solta.

Espero.

Que horas você volta?


Espon-tânia

(Para Tânia Maria Zambrim em sua 25ª Primavera)


Sinta no meu abraço magro,

Este meu afeto, antes vago.

Que escondi no estômago,

Que escondi no armário.


E fica a lembrança,

Você lava a louça, eu enxugo.

Você descasca a laranja,

Eu chupo.


Em meio a telenovelas,

Tombos e porradas,

Quando você chora, irmã,

Fica linda, fica rosada.


Obrigada por ter me guiado

Com sua mão branquinha

E por ter me ensinado

Colar o absorvente na calcinha.


Perdoe-me por ter crescido,
Por ter riscado suas bonecas.
Você virou uma moça bacana

E eu te amo, minha mana.




Amor,

Tatiane.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009


Mal feita


A menstruação estancou
O seio cheio de leite.
A filha apeticida pela mãe,
Um infortúnio para o pai.
Feto marcado.
Morre o bêbado desgraçado.
Cresce, crescem mamas.
Menstruação precoce.

Alma leve de isopor
E surge um senhor

Vira chumbo.
Tanta neguinha para amar
E em mim a barba foi roçar.
Na navalha da idade,

Desejo de uteração.
Suicídio.
Intervenção divina?
Um ser roçagante,
Restringindo o corpo.
E vive assim,
Um penico furado,
Um filho violentado.
É preciso que haja o domingo.
Para passar esmalte,
Para o esmalte secar.
Voltou a ser,
Depila as axilas
E chora água do mar.
Às vezes é preciso falecer,
Outras vezes, matar.
Em nome do Diabo,
Do Pai,
Do Filho,
E do Espírito Santo,
Amém.


sexta-feira, 22 de maio de 2009





Anísia 

Mãos cruzadas, serenas,
A face lânguida,
Nem branca, nem morena.
Foi-se em uma célere partida.
E meu coração melindroso,
Sente o revés do gozo.

Tenho andado triste, querida.
 

Arrancastes um braço meu.
E a varanda de sua casa,
é a varanda mais triste.
Volte, passe-me o Merthiolate que arde
 

E sua doce escassez de alarde.

Oito vezes mãe,
Mais vezes avó,
Bisavó, pouquíssimas.
E de domingo dói o dobro.
No peito, um imenso nó.
 

Por que nos deixastes, avó?

Infarto agudo do miocárdio,
Eu odeio surpresas.
Adeus Dona Anísia.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009



Perfídia



Diz quase num gemido
Que é quase minha mulher.
Bafo morno no ouvido
E enfia-se boca adentro,

Como uma colher.


Por mim vai à missa,
Deixa de usar batom.

E não és submissa?!

Enfio-me corpo adentro,
Sou bom!


Quando chega o ordinário,

Ela retoma a respiração,

Olha-me com escárnio.

Enfio-me armário adentro,

Ela desamassa o colchão.


Gosto-te assim, casada.

Senta aqui, me escuta!

Não te amarei divorciada.

E enfia-me porta afora.

Filha de uma puta!


Mas logo me liga
E te deixo de perna bamba,

Transa fazendo figa

E enfio-me mata adentro,

Quase fiz um samba.