(...) "Com a ponta da língua pude sentir a semente apontando sob a polpa. Varei-a. O sumo ácido inundou-me a boca. Cuspi a semente: assim queria escrever, indo ao âmago do âmago até atingir a semente resguardada lá no fundo como um feto". (Verde lagarto amarelo - Lygia Fagundes Telles)
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Dor-ivaldo
Para Dorivaldo Zambrim (in memoriam)
Visto a utopia estranha
De trazê-lo para cá,
Gerar em minhas entranhas
Um pai benfeitor, quiçá.
Um pai para consagração,
Pois se foi e nem viu
Minha primeira menstruação,
Meu primeiro namorado viril.
Um pai à prestação,
Pois se foi sem dizer tchau,
Nem deixou pensão,
Só uma saudade unilateral.
Hoje senti uma falta danada.
Chorei muito no banho,
Foi como uma engasgada
Com um sentimento tamanho.
Agora dos vermes és o pai,
E fétido em demasia,
Mamãe friamente o trai,
Para mim, ainda é poesia.
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